Pensamentos

A Terra não pertence ao Homem, é o Homem que pertence à Terra. Todas as coisas estão ligadas: tudo o que acontece à Terra acontece aos filhos da Terra. O Homem não teceu a teia da vida, ele não passa de um fio da teia. Tudo o que ele faz à teia faz a si próprio.

Chefe Índio Seattle

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Cada fechadura tem a sua chave. Sempre foi assim. É uma coisa que se sabe. Um tesouro faz feliz quem o encontra é outra coisa certa, outro saber antigo.

Mas há chaves perdidas e tesouros para sempre fechados.

Do outro lado do mar e entre dois desertos está o vale dos desencontros. É um vale escuro e sombrio em que durante o dia se ouvem lamentos.

Atentas ao mundo vivem as fadas e quando à noite entram de mansinho nas casas levam muitos meninos até ao vale dos desencontros. Só que às vezes eles vão tão ensonados que se esquecem do caminho. Mas alguns sonham sempre com muita atenção, lembram-se de tudo e trazem uma chave.

Para essas começa depois o mais difícil: procurar o tesouro que num qualquer canto do mundo espera paciente e mudo pela sua chave.

Nunca se pode desesperar. Os tesouros estão onde menos se conta.

Houve uma vez um menino que encontrou o seu dentro de um livro muito antigo com as folhas a desfazerem-se.

Outro encontrou-o num país gelado no cimo da única árvore de maças que lá havia.
Para já não falar daquele que descobriu o tesouro nos olhos da namorada.

Às vezes antes dos tesouros há terríveis precipícios. Para os atravessar é preciso voar. Ninguém sabe como se voa. Deve-se esticar o corpo e esperar. Às vezes acontece.

Também se encontram muitas vezes dragões. Os dragões são imortais, mas se se ferirem no coração adormecem durante cem anos. Deve-se sempre olhar os dragões de frente. Eles são muito mais perigosos quando percebem que se tem medo deles.

Os unicórnios também estão às vezes no caminho dos tesouros. E as bruxas. E os gigantes.

Pode-se ter medo, não se pode é parar. Às vezes cantar ajuda. Ou perguntar adivinhas ou contar anedotas. Eles estão desprevenidos e riem-se e quando se riem o perigo já passou.

Não há um tempo certo para se descobrir tesouros. Uns levam a vida inteira, outros descobrem-se quando ainda mal sabemos falar.

Nem sempre os tesouros encontrados dão dinheiro. Podem ser muitas outras coisas. Chama-se-lhes tesouros porque durante toda a vida dão prazer e alegria a quem os encontrou.

É preciso tratar bem os tesouros, porque os tesouros felizes, tal como os dragões são imortais.
E pronto, quem já tem a sua chave continue a procurar e quem não tem deixe-se dormir e dê a mão às fadas, porque a aventura todas as noites pode começar.

Texto: Graça Vilhena