12:H22 p.m.

Só para que saibam que tenho de ir para a puta da sala 2.12 o mais depressa possível e estou a escrever num teclado antigo com teclas presas. Esta faculdade, esta faculdade, é um poço de cultura! Estas japonesas ou vietnamitas, chinesas, talvez coreanas que por aqui andam... e angolanas, e toda a gente, isto é um poço de cultura, bendita globalização! Eu não dormi esta  noite e sinto-me mais desperto que tivesse dormido meio dia, estava para perder forças e ir abaixo na aula de cinema o que seria um belo filme, mas não consegui tirar os olhos da jovem que estava ao meu lado, só por isso não ensonei. Óculos e decotes, e filmes a preto e branco em salas escuras... não sei se tenha fome ou sono, hoje não sei que fazer, tenho aulas das 8 a.m. às 8 p.m., vai ser bonito vai. Eram cinco da matina e eu estava a dedicar um poema a um rolo de papel higiénico... sou um gajo estranho porra. António Mascaranha: memorize that name. 

11H34 a.m.

*Telefonema* Começo a pensar que só sirvo de interesse a algumas pessoas, mas eu sei disso. Aquele tem pertences meus e não me responde, esta não me respondia mas agora sim porque quer não sei o quê. Por vezes sinto-me bem, rodeado de idiotas, faz-me crer que até sou um gajo porreiro por contraste. Mas não vou julgar ainda, não sou nenhuma Maya. Essa Maya... essa Maya que não lê o futuro em pessoas que não têm mãos. Estarão elas amaldiçoadas? Lá sei eu. Mas há que gabar essa Maya, por vezes parece estar mais em sintonia com o seu paciente que um casal racial que vê filmes a preto e branco...

07H09

Aff, está tanto frio que os meus bolsos estão gelados, onde vou aquecer as mãos? Estou sentado no comboio e o homem à minha frente tem um macaco a sair do nariz mas ele não sabe. Ah! Estou a escrever que o homem tem um macaco a sair do nariz e o homem vê-me a escrever mas não faz ideia que estou a escrever sobre ele. Que nojo... a nojice mete-me nojo, é nojenta. Manchester City bués golos - 0 Sporting. Por vezes penso que mais vale ser um idiota saudável que um sério doente. E há doenças que podem ser uma merda. A gonorreia, por exemplo.

10H22 a.m.

Acordei ainda à pouco e sinto-me sem disposição para nada. Tenho coisas a fazer, mas ainda nem comi. Se eu acordar pelo meio-dia, almoçar cereais e jantar bolachas com café, isso faz de mim vegan? Esta vida... cheia de questões. Tenho 9 dias para ler o Ano da Morte de Ricardo Reis, do Saramago; a saber são 415 páginas, teria de ler 46 páginas por dia. Se vale a pena? Tudo vale a pena, se alma não é pequena. Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce. Etc, etc, rebéu béu béu pardais ao ninho. Por vezes acusam-me de ter falhas de memória. Mas nunca me recordo disso.

15H23 p.m.

'Juro-te que tenho curiosidade em saber se és mesmo otário, ou se só és otário tal como eu sou parvo! xD'. Esta mensagem foi enviada por um moço para o meu email de blog, ao qual raramente vou,  mas fui agora, enquanto ouço música no descanso do meu quarto. Por vezes encontro pela blogosfera opiniões direccionadas a este espaço, comentários, e acho muito engraçado. Por exemplo, tenho sido motivo de conversa aqui. Acho que tenho isto há uns cinco ou seis anos, coisa menos coisa, criei aqui um espaço de desabafos... se sou mesmo otário? Todos os dias penso nisso. Vocemessês, que me lêem, ou para os que me conhecem, saberão decerto isso mais do que eu. Há sempre palavras que ficam em dívida na elaboração de conceitos, por isso é que a comunicação muitas vezes fluí em fontes de areia seca. Whatever.

01H09 a.m.

Só me apeteceu ligar-te para te mandar à merda, mas sinto que ainda tenho algum respeito por ti. O tempo que perdi contigo, quando me chamavas e eu ia... Tenho criado nos últimos meses uma raiva à tua pessoa, desde a última vez que te confessei saudades. Porque, a meu ver, te tornaste numa pessoa aparente, ilusória e falsa. E acaso o destino nos una novamente numa qualquer rua, espero ter a força suficiente  para te virar as costas.

15H30 p.m.

Ui... o Carnaval! As velhas a encherem a rua esperando o desfile dos putos ali do CEBI. Uma pessoa, ao vir para casa, tem de passar pelos olhares atentos e rugosos do corredor da morte. Estou extenuado, bendito fim-de-semana! Só a esperança de dar uns 3 secos àquela equipa do filho da mãe do Bruno Alves, que lesionou o Rodrigo, no Inferno da Luz é que me dá ânimo. Isso e saber que o FCP vai ser eliminado pelo meu Manchester City. Oxalá venha um treinador de carácter a essa equipa que perceba que esse tal de Hulk não joga um cu.

17H22 p.m.

Finalmente fui ver isto que tanto queria e confesso que esperava mais, mas recomendo. Andei meio atarantado, vagueando pelo parque da Gulbenkian, mas aproveitei para ver os patos e os pombos e o sol, esse não literalmente, porque queima. A minha motivação anda em processo de loading, moderação Q.B.; não quero ter a motivação de um cego velho, esses, esses cegos velhos que não olham a meios para atingir os seus fins. Bem... vim do meu almoço macrobiótico e dei de caras com o meu amigo Sérgio por cá, surpresa agradável, e fui reviver tempos antigos assistindo a uma cadeira que outrora tive em Filosofia. Estou na FLUL, o dia inteiro, esperando uma aula de noite que não sei se vou ter. Mas ao menos podem dizer que sou um gajo assíduo e interessado.

9H54 a.m.

Bem... opinar que a morte da Whitney Houston é merecida porque ela 'era uma drogada' é como  dizer que os nadadores salvadores se devem afogar por passarem muito tempo na água... ups Cátia, isso é feio. Hoje sonhei que estava a auxiliar um homem sem mãos, e eu estava tão apressado que deixei umas moedas no chão e o homem, que só tinha punhos, esbatia-se para as apanhar. Julgo que me falta uma dose de ânimo nesta vida, as coisas nem me estão a correr mal. E agora vou para a aula de cinema...

3H19 a.m.

Still Awake? Não consigo tirar isto e isto da cabeça. Amanhã vai ser duro, a ver se pego um sono profundo, o mais certo será beber algo forte para acordar mais logo, dormir não é coisa para mim. Bem, hoje é dia de namoros e não-sei-quê. Peles de galinha e borboletas na barriga já fazem um bom caldo de sopa. Bom dia para vós, solteiros ou não, o que interessa é que vivamos com um sorriso no rosto...

15H44 p.m.

Nota +/- entusiasta acerca do regresso à FLUL: acabei de sair do wc masculino com 2 senhoras de limpeza a guardar a porta. Têm medo de ver homens nus, só limpam o wc masculino quando ele está vazio de pilas. O retorno às aulas é também o regresso junto de pessoas menos agradáveis, aquele paquiderme... bem, estou a fazer tempo, só tenho aula daqui a duas horas e as pessoas passam e pensam que estou a estudar, mas não, estou a escrever isto. Bolas, esvaziei-me bem naquela sanita... aquele wc passou a cheirar pior que um puto de 5º ano depois de Educação Física, isso é certo...

21H52 p.m.

Deve ser, certamente. Quem diz isso só pode ser idiota. Se deve ser é porque há dúvidas, ou dir-se-ia certamente é. Os locutores de futebol deviam ter tento na língua, parecem uns atrasados. Atrasados atrasados que chegam tarde a todo o sítio. OMG, que atraso de vida.

1H26 a.m.

Odeio o riso daquele gajo. Ouço-o, no meu quarto, enquanto leio para adormecer. Apetecia-me ir bater-lhe à porta e puxar-lhe aquelas orelhas grandes até ele ficar sem orelhas grandes até ficar sem orelhas pequenas até ficar sem orelhas nenhumas. Levantei-me para ir buscar o meu caderno para escrever isto e é 1H21 e já não consigo ler mais à pala do riso do idiota. E continua a rir-se, foda-se... parece que tem prazer em ser odiado, em me incomodar, lagarto dum catano. Idiota.

3H40 a.m.

Dentro de um precipício azul navegam cavalos carecas sedentos de cabelos de éguas porcas anãs com uma crista no rabo igual aos chifres de elefantes que bebem água no oceano molhado onde nadam peixes e tubarões e pessoas que são comidas por tubarões e peixes que também são comidos por tubarões e tubarões que não comem tubarões mas pessoas e peixes e as pessoas só sentem falta das pessoas e não dos peixes porque há muitos e são todos iguais e uma sardinha é igual a todas as sardinhas e atum e robalos e aquelas enguias que são feias como uma porta porque chamam feia à porta não sei eu até gosto de beber água no chafariz tenho é medo que os putos à noite vaiam lá fazer xixi e eu apanhe doenças e sida e tuberculose e amputação de nádegas e dentro de um precipício azul navegam cavalos carecas sedentos de cabelos de éguas porcas anãs.

Cócó Duro

Confesso que passei metade do 1º semestre à procura de uma rapariga. Conheci-a à beira da sala 2.12 onde iríamos ambos nós os dois fazermos prova de colocação de nível a uma língua. Ela estava perdida, como aluna de 1º ano, mas muito divertida, rimo-nos numa conversa animada de 20 minutos. Vanessa. Posteriormente ao exame, ela apressada, com a mãe, que não ficou propriamente agradada com a minha presença, sumiu, sem eu conseguir oportunidade de lhe pedir contacto. Percorri, nesse dia de inscrições, a faculdade inteira para a rever e não a encontrei. E não a voltei a ver na primeira semana de aulas, e a imagem da rapariga não me saia da cabeça. Exaustivamente arranjei meios de a reencontrar: com o conhecimento prévio do curso que ela frequentava, percorri o departamento específico e a associação de estudantes a fim de encontrar informação acerca das cadeiras de curso da rapariga. Depois, no horário online da faculdade, pesquisei supostos horários em que ela poderia estar colocada, com as respectivas salas. Cheguei a fazer esperas em escassas salas com o intuito de a rever. Confesso que estava sempre sentado perto à sala, com um jornal ou algo que pudesse indicar que estivesse distraído e encontrar a rapariga supostamente por acidente e depois dizer Ei, tu aqui? Que magnífica coincidência!. Nunca a vi à saída dessas salas, e ponderei se ela teria desistido. E desisti. A certa altura, simpatizei com uma minha colega, também Vanessa, também do mesmo curso, e cheguei a contar o sucedido, que tinha conhecido uma jovem e não a voltei a ver, e a pedir, caso a encontrasse nas cadeiras do seu curso para me informar. Assim mesmo, não a vi mais. Enfim, isto é somente um desabafo de um pseudo-nostálgico humanóide e o relato do seu inédito e único caso de procura de uma jovem pela pedagógica FLUL. O 2º semestre começará brevemente, veremos como será. 
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Divagações 17: Otário, o visionário!


Ando a pensar em remodelar a minha vida, mas nunca fui bom em projectos. Tenho o meu quarto para arrumar mas esqueço-me de me lembrar disso. Se um dia tiver filhos sou bem capaz de os deixar à porta da escola à minha espera. Dia 04/02 terei 21 anos. Isso quer dizer que daqui a +21 farei 42 e daqui a 42 uns 63 e daqui a 63 farei uns 84 e daqui a 84 já farei uns belos de uns 106 e daqui a 106 farei 127 e serei certamente o idoso mais forte da minha geração. O Manoel de Oliveira já não estará entre nós. Ahhhh... o tempo! Esse animal que nos come quando comemos o pequeno-almoço e jogamos ao pião! Deprimo-me com aniversários: é quando costumo fazer a barba. Normalmente faço a barba uma meia dezena de vezes por ano, normalmente quando estou deprimido. Ou então quando vejo uma velha e ela me diz estás tão grande, um homem com barba e tudo!, isso faz-me sentir velho. As velhas fazem-me sentir velho. Não gosto de velhas, são feias e têm artrose. Seria imbecil chamar 'vaca' a uma velha com artrose. E dar post-its a um amnésico, isso sim, seria absurdo. Enfim, não sei o que escrevo. Mas faz sentido na minha cabeça. Tal como o Djaló faz sentido no Benfica. Sim, fiz a barba e não me cortei, pela primeira vez na história da minha vida medíocre. Não me cortei, mas vou ter de cortar nos meus gastos porque ando a ficar sem dinheiro e tenho propinas para pagar. O 2º semestre começa daqui a coisa de 1 semana e confesso que estou um pouco entusiasmado com as cadeiras em que me inscrevi: eu fico sempre assim antes das coisas começarem, mas depois é o desastre. Mas calma, vivamos com calma... a vida é muito stressante para quem vive com stress. Mas estar vivo é sempre bom. Nunca queiras morrer de uma morte matada. Estar morto é uma chatice, nem podes suspirar de tédio. Por exemplo, Ah Fuuu (suspiro), 'tou morto, que chatice!. Isso é impossível, os mortos não têm ar. Quer dizer, têm ar de mortos. Mas isso não lhes serve de nada, coitaditos.