O melhor momento para voar é, normalmente, de manhã: quando os velhos compram o seu pão, lá pelas oito da manhã, oito e meia, quando o resto do mundo está a dormir.
O melhor momento para voar é, normalmente, quando não há mais ninguém perto de ti que voe.
Ou melhor, em horas descongestionadas - uma palavra dificil de se dizer mas útil em algumas situações, como esta.
Por exemplo, durante a hora do almoço não há muitos pássaros no céu a doirar o meu caminho.
Estão a alimentar os seus filhos, ou a roubar comida a outros pássaros para alimentar filhos que são seus. A melhor hora será pelo meio dia e meia, quando o zé está a assar sardinhas com o lume a arder e queima a pilinha sem ninguém saber. Essa é uma das horas mais descongestionadas dentro do conjunto de horas congestionadas que temos no conjunto de 24 horas diárias que um dia tem.
Como é que se voa?
Uma pergunta muito utilizada por professores do ensino primário quando querem ensinar os seus alunos passarinhos a viver a vida.
Ora, é uma pergunta que não tem resposta, cada um voa à sua maneira.
Uns voam pela esquerda, outros voam pela direita, outros acabam por voar estupidamente na faixa do meio como se fossem burros ou pior que eles. Como se fossem uma paragem de autocarro disponível fora da cidade, onde só vivem velhos atrasados nas horas do relógio.
Mas, na verdade, tudo bem, sim senhor, cada um voa como quer...mas...
Para onde é que eu voo? Vou para aqui, vou para ali...vou para acolá?
Essa também é outra questão, não tão utilizada como a primeira mas, normalmente, também se utiliza por algumas pessoas que queiram perguntá-la.
Ora, isso também depende da vontade de cada qual. É o que eu posso dizer.
Uns voam para cima, outros voam para baixo, uns tocam a concertina e outros o contrabaixo.
Uns nasceram num sítio urbano e vieram morar para um sítio não urbano, outros vice-versa e etc.
Depende da vontade de cada qual. Cada qual faz o seu voo.
Então, e agora, depois de toda esta informação útil,
e voar para quê?
Bom, "voar para quê?" também é uma boa observação em modo interrogativo.
Ora, voar porque se uma pessoa não voa vai ganhar raízes que não crescem. Será, como dizia o meu pai, uma couchpotato. E ele sabe muito bem o que são couch potatoes, porque ele é uma pessoa de sessenta anos e, certamente, já conviveu mais com couch potatoes do que eu.
Portanto é necessário voar, é necessário saber voar, é urgente o amor, é urgente um barco no mar.
E é necessário não ficar parado.
Estas são as regras fundamentais do voo.
Para a próxima lição irei trazer um convidado: uma águia passarôca roliça que já percorreu, pelo menos, cinco quilómetros entre a sua habitação e a superfície comercial mais próxima - é o suficiente para acontecerem tragédias como, por exemplo, ser atropelado por um carro.
Portanto não percam a próxima edição de Como é que se voa?, porque eu irei prosseguir com as sessões; neste momento gratuitas e, posteriormente, talvez também.
Não se esqueçam, a determinada hora de determinado dia cá estarei para prosseguir com o voo.
Obrigado,
Não se esqueçam de voar.
Atenciosamente,
passarinho bébé.