Gosto do som das gaivotas na praia deserta ao fim da tarde, quando está um frio do caralho e o sol parece um ovo estrelado. Creio que a generalização torna os prazeres banais. Uma coisa é tomares o gosto do café, outra é tomares o café porque toda a gente o toma. E toda a gente é como tu, e tu segues toda a gente: então, toda a gente está seguindo toda a gente sem ter essa noção, porque, se toda a gente segue, então, deve ser bom; e tu és uma ovelha perdida num rebanho que pensa que é um lobo selvagem que domina o mundo e tem liberdade para tomar cafés à rebeldia e de comer frangos com batatas e de torturaR animais e usar casacos de pele. E no teu fundo deprimente sabes que não és ninguém, não podes ser ninguém quando és toda a gente. Não podes ser tudo ao mesmo tempo quando não és nada. E não podes ser feliz se tomas isso como objecto necessitado de reconhecimento exterior. Então, quem és, se tens em ti todas as realidade? Quem és se não tens em ti todos os sonhos do mundo? E que sociedade seremos... se a sociedade é isto. E porque há ideias comuns, há descriminação. E porque há religião, há fanatismo. E porque há isto há morte, há sofrimento, perda de valor e há este texto. De que vale ter a chave se a porta está aberta? De que vale a força e o raciocínio se estão guardados na esperança? E de que vale a esperança sem acção ética e razão consciente. E de que vale eu escrever isto, de qualquer modo...