Vamos para a cama pensar no mundo de amanhã como se as horas mandassem em nós como juízes que batem com o martelo a julgar o pobre inocente. Vamos dar as mãos como se fossemos iguais a toda a gente, vamos ser namorados, vamos dizer amo-te, vamos, vamos dizer palavras como toda a gente, será por nos amarmos, para nos identificarmos, para fugirmos da solidão rotineira de acordarmos sozinhos de manhã? Não, mas eu quero ter a tua escova dentes ao lado da minha porque uma imagem dá significado ao queremos ter. Imagens, controlos, arquivos de futuros antecipados pela morte. Mas agora, que está cada um na sua casa, vou sucumbir ao zapping noticioso do mundo decadente, sentado a assistir como numa tela de cinema, como toda a gente, como toda a gente que se senta a assistir ao assassínio de crianças que acordam vermelhas de sono, como toda a gente que à par disso muda para o canal do homem rico que tem um canal com o seu nome, nem por isso culto e humano e com menos vontade de vencer na vida que o pequeno siriano morto a tiro porque os pais roubaram um pão. Mas deste que estejamos juntos e bem como todas a pessoas decerto estaremos bem um com o outro como toda a gente.