O Fantasma das cuecas rotas tinha atacado ao anoitecer. Pela manhã, os nudistas da praia molhada apercebiam-se da falta de tecido abaixo da zona neutral. Não seria, porventura, tão neutral assim, mas motivo de muitas guerras emancipadas de abortos previamente amputados, traidoras desposas, maridos com peso a mais em cabeças carecas de meia-idade. Logo que se apercebeu do sucedido, o ministro da cidade das cuecas rotas tomou medidas de suporte. Tem, de momento, uma mesa de última geração, pertencia a sua avó, no centro do seu departamento, e suporta maravilhosamente seus braços cansados nas suas sestas diurnas e nocturnas. O Fantasma, porém, não tende a recuar. São meses de chacina de cuecas, muitos mais dias e muitos mais minutos e muitos mais segundos. Há quem diga que é mesmo um Fantasma que engravidou todas as grávidas então paridas. Há quem diga que foram os maridos que engravidaram as solteiras. Há quem diga que as galdérias engravidaram sozinhas. O mistério da aparência do Fantasma, contudo, é algo ainda a desvendar. Diz-se, por bocas que falam e ouvidos que as ouvem, que sempre é referido algo novo referente ao Fantasma. O Fantasma não presta declarações. O Fantasma não fala e o Fantasma não comunica. São montes de cuecas rotas amontoadas na cidade das cuecas rotas. Há quem defenda a compra de cuecas estrangeiras. Há estrangeiros que não usam cuecas. Há um Fantasma que não se vê. Há um Fantasma que não se mostra. A zona pélvica, porventura, mais disposta ao oxigénio do ar aspirado, tende a purificar. São já muitos os gurus que defendem a tese da aspiração uterina com o intuito de afastar maus presságios. E fantasmas até então desconhecidos.