sentado perto do tanque dos patos, no jardim da Gulbenkian,
ouço passos a vir na minha direção acompanhados de uma voz:
-
HO ZÉ!
e eu tenho várias incertezas na vida, mas sei que não me chamo zé,
sei que o meu nome possui mais que duas letras. e eu só quero estar sozinho, neste momento de introspeção, enquanto fumo um cigarro e miro o cu de algumas pretas que passam por aqui. enquanto, perdido no oceano de nicotina, acompanho o leve circular dos patos e penso foda-se, que animais harmoniosos! - ao mesmo tempo em que ganho uma vontade cada vez mais elevada em os degolar, esses animaizinhos estúpidos que parecem ter uma vida tão mais fácil do que a minha, mas ao mesmo tempo tão frágeis e acessivelmente comestíveis junto de batatas assadas.
a voz continua audível, a chamar pelo zé, pelo zé, pelo zé, em
pequenos intervalos ela chama com entusiasmo o zé, e as minhas feições faciais sofrem uma mudança radical cada vez que a sinto mais audível, cada vez que pressinto aqueles passos mais perto de mim, e eu só quero estar sozinho, neste momento de introspeção, enquanto fumo um cigarro e miro o cu de algumas pretas que passam por aqui. a influência que esta voz começa a ter em mim é intensa, acompanha-me em cada pensamento de nostalgia, já nem consigo imaginar o degolar dos patos sem ter alguém a chamar pelo zé, o zé está em todos os meus pensamentos, o zé está no meu quarto enquanto me imagino na cama com aquela preta que passou há pouco. e isso não é nada harmonioso. e eu não me chamo zé, sei que não sou o zé e sei que sou uma série de não-coisas, sei que sou mais não-coisas do que sou coisas, sou um inúmero leque de não-nomes próprios, não-nomes comuns e não-nomes colectivos.
sentado perto do tanque dos patos, no jardim da Gulbenkian,
levanto-me calmamente, como se a minha vida dependesse de me deslocar vagarosamente neste momento específico, mas a verdade é que não me apetece fazer merda nenhuma e já não tenho entusiasmo para pular de assentos públicos. tal como o meu cigarro, o tempo que dispunha para permanecer aqui terminou, os patos já esbanjam harmonia em demasia para mim neste dia, eu continuo a não ser o zé, e a realidade é-me uma mãe furiosa por lhe ter roubado dinheiro da carteira e só a sinto dar chapadas na minha cara.
chapadas metafóricas, nem por isso doem menos.
sei que o meu nome possui mais que duas letras. e eu só quero estar sozinho, neste momento de introspeção, enquanto fumo um cigarro e miro o cu de algumas pretas que passam por aqui. enquanto, perdido no oceano de nicotina, acompanho o leve circular dos patos e penso foda-se, que animais harmoniosos! - ao mesmo tempo em que ganho uma vontade cada vez mais elevada em os degolar, esses animaizinhos estúpidos que parecem ter uma vida tão mais fácil do que a minha, mas ao mesmo tempo tão frágeis e acessivelmente comestíveis junto de batatas assadas.
a voz continua audível, a chamar pelo zé, pelo zé, pelo zé, em
pequenos intervalos ela chama com entusiasmo o zé, e as minhas feições faciais sofrem uma mudança radical cada vez que a sinto mais audível, cada vez que pressinto aqueles passos mais perto de mim, e eu só quero estar sozinho, neste momento de introspeção, enquanto fumo um cigarro e miro o cu de algumas pretas que passam por aqui. a influência que esta voz começa a ter em mim é intensa, acompanha-me em cada pensamento de nostalgia, já nem consigo imaginar o degolar dos patos sem ter alguém a chamar pelo zé, o zé está em todos os meus pensamentos, o zé está no meu quarto enquanto me imagino na cama com aquela preta que passou há pouco. e isso não é nada harmonioso. e eu não me chamo zé, sei que não sou o zé e sei que sou uma série de não-coisas, sei que sou mais não-coisas do que sou coisas, sou um inúmero leque de não-nomes próprios, não-nomes comuns e não-nomes colectivos.
sentado perto do tanque dos patos, no jardim da Gulbenkian,
levanto-me calmamente, como se a minha vida dependesse de me deslocar vagarosamente neste momento específico, mas a verdade é que não me apetece fazer merda nenhuma e já não tenho entusiasmo para pular de assentos públicos. tal como o meu cigarro, o tempo que dispunha para permanecer aqui terminou, os patos já esbanjam harmonia em demasia para mim neste dia, eu continuo a não ser o zé, e a realidade é-me uma mãe furiosa por lhe ter roubado dinheiro da carteira e só a sinto dar chapadas na minha cara.
chapadas metafóricas, nem por isso doem menos.