Boca do Inferno _ RAP

Para mim, a grande vantagem da tecnologia é a globalização da estupidez. Antigamente era muito difícil contactar com estupidez verdadeiramente nova e original. Não quero com isto dizer que, em Portugal, não houvesse estupidez. Havia, e boa. Mas isto é como tudo o resto: eles lá fora acabam por produzir de um nível que nós, cá, temos dificuldade em atingir. E perceber que há estupidez maior que a nossa é das sensações mais reconfortantes que podemos ter.
De toda a estupidez que nos chega através da internet, a minha preferida é a que é enviada por e-mail para fazer de nós parvos. Muita gente tenta fazer d emim parvo, e Deus sabe que boa parte consegue atingir o seu objectivo, mas confesso que nem eu caio nestas histórias. A melhor de todas é, sem dúvida nenhuma, a da banheira de gelo. O leitor já conhece a patranha: um homem de negócios encontra uma bela mulher num bar de hotel. Sobem ao quarto (sendo que a história omite o que o homem de negócios disse à senhora para a convencer a subir - coisa que, isso sim, seria verdadeiramente pedagógica) e no dia seguinte o homem acorda numa banheira, coberto de gelo, com uma cicatriz no abdómen. Ao lado está um telefone e um cartão com a mensagem: «Tirámos-lhe um rim. Ligie para o 112 rapidamente ou acabará po morrer.» E parece que vem assinado: «Uma das várias máfias do leste da Europa, daquelas constituídas por tipos mesmo feios e maus.» (...) É, em suma, um péssimo mito urbano, descaradamente fantasioso. Seja como for, e naõ vá o diabo tecê-las, há noites em que bebo os seis ou sete gins tónicos sozinho. Se estes mafiosos me quiserem roubar o fígado, levam-no todo escavacado. Para aprenderem. E é bom que a bela mulher seja mesmo bela.