Caros escritores, caros músicos, caros jornalistas e reporteres, caros advogados, caros futuros 'alguéns', sugiro pessoalmente que, ao escrever ou publicar qualquer artigo, não esquecer de colocar a respectiva data em que tal é elaborado. Uma data pode lembrar um momento.

Há um ano (dia 24), conheci uma menina (mais velha, é certo, mas era-o ainda) muito bonita e inteligente que logo me cativou e a amizade floriu. Foi há um ano, eu sei. E perto de um anjo, comecei a magicar, as letras iniciaram a sua transformação, as palavras juntavam-se em intervalos e, de repente, tinha um poema estruturado na minha cabeça. 'Caneta, papel...', pensava eu numa correria. Antes dela, perto de quatro meses que não elaborava um texto.

Há um ano, ensinei, mas também aprendi, que a vida não é um pilar. A vida não é um artefacto. A vida não é protótipo pelo qual se caminha. Aliás, a vida apresenta vários sentidos. A vida e o tempo são aliados e, com este último, se constrói a primeira. E, desta amizade, nutri um saber. 'O Tempo é hoje', dizia.
- O Tempo é hoje!

Mas, 'o que é bom acaba depressa', lá diz o ditado. Infelizmente, esta menina (que, cá, virou já mulher), devido a doença e problemas familiares (ela diria que não, mas sei-o bem), teve de se mudar. E eu, há já algum tempo que não lhe falo. Mas, por mais que não o faça cara-a-cara, vai ser hoje!

'(...)
E, hoje, sento-me aqui sozinho,
com um lugar à brisa do ar,
e digo num tom tão baixinho:
'é teu, se decideres voltar' '

by Otário
'






Era uma vez uma menina
que ficou no meu coração,

entrando no cc sozinha,

e regateando com o João.


Hoje, sai daqui uma mulher,
uma senhora que, num bom canal,
se mostrou e fez crescer

na grande sic radical.


Adeus, ó JOana Dias,

boa sorte para o futuro,
que nos dês mais alegrias
no início de um novo rumo.


by: Otário

Ao assistir a um programa na RTP2, sou esclarecido:
  • A razão dos chineses existirem no mundo num número tão elevado é: 'apareceram primeiro'.
  • A razão dos chineses terem aparecido primeiro no mundo é: 'através de relações alienistas'.
E tudo se resume num espécime de crânio encontrado entre a China e o Tibete, datado de 900 anos. Claramente, arqueólogos curiosos no caso, dotam da minha opinião: tal diferença entre esse e outros, é que tal crânio provém de alguém humano com uma qualquer deformação.

Mais um episódio curioso na já muito falada sociedade chinesa que é, aqui, alvo de críticas de alguns historiedores de aliens por, supostamente, esconderem a sua verdadeira identidade/origem.
Texto verídico de um gajo que não queria ir à tropa:

ExmoSr. Ministro da Defesa, Venho deste modo explicar-lhe uma situação delicada que tem vindo a Ocorrer, de maneira a poder obter um eventual apoio vindo de VossaExa; Tenho 24 anos, e fui esta semana chamado para ir à tropa. Sou casado com uma viúva de 44 anos, mãe de uma jovem de 25 anos, da qual sou ~ _padr-asto O.Lme.Y...Wlis,~-1u:l?ao4r.o,~!t..sou:g~~ es~ajovemem questão. Neste momento, o meu pai passou a ser o meu genro, uma vez que se casou com a minha filha. Deste modo, a minha filha, ou chamemos-lhe, enteada, passou a ser a minha madrasta, uma vez que é casada com o meu pai A minha esposa e eu tivemos, no mês passado, um filho. Esse filho tomou-se o irmão da mulher do meu pai, portanto o cunhado do meu pai. O que faz com que seja o meu tio, uma vez que é o irmão da minha madrasta. O meu filho é, portanto, o meu tio... A mulher do meu pai teve no Natal um rapaz, que é ao mesmo tempo o meu irmão, uma vez que ele é filho do meu pai, mas o meu neto por ser o filho da minha enteada, filha da minha esposa. - Desta maneira sou o irmão do meu neto! !... E como o marido da mãe de;uma pessoa é o pai da mesma, verifiquei que sou o pai da minha esposa, e o irmão do meu filho. Resumindo: sou o meu avô!!! Deste modo, Sr Ministro, peço-lhe que estude pacientemente o meu Caso, porque a lei não permite que o pai, o filho, e o neto sejam chamados à tropa na mesma altura.Agradecendo antecipadamente a sua atenção, mando-lhe os meu melhores cumprimentos.
Era o intervalo para o 3ª aula da manhã e eu, com pouca vontade devido ao barulho exterior, dirigi-me à sala de aula mesmo antes da campainha soar. Ao chegar, deparo-me com um aluno sentado num dos bancos, a chorar, agarrado ao telemóvel. Baixo-me nas escadas e, por um momento, sinto pena e chego a pensar reconfortá-lo, perguntando se estaria bem ou se precisava de algo. E é aí em que olho a sua face, outrora coberta pelo seu meio cabelo longo, e questiono: 'Epá... isto é uma gaja ou um gajo?'. E fiquei na dúvida. Como iria estabelecer diálogo assim? Das 2/1:

ou perguntava qual o seu sexo (o que penso que levaria a mal) ou tentava com que me mostrasse o seu dito cujo (o que também penso que não agiria lá muito bem. Espero eu. Porque ela era horrível. Ou ele. Tanto faz!).

Então, a campainha explodiu e fui à minha vidinha.
Aquele costume dos adultos irem à igreja enchia Ana de suspeitas. A ideia do culto colectivo ia contra o sentido íntimo das conversas com o Tio Deus. Quanto a ir à igreja para se encontrar com o Tio Deus, era absurdo. Se ele não estava em toda a parte, então não estava em parte nenhuma. Não via a relação entre a igreja e «falar com o Tio Deus». Para ela tudo era claro: ia-se à igreja para receber a mensagem quando ainda se era pequeno. Uma vez recebida a mensagem, saía-se para agir. Quem continuava a ir à igreja é porque não tinha recebido a mensagem ou não a tinha compreendido, ou simplesmente «para se mostrar».

A curiosa insistência da catequista Senhora Haynes e do Reverendo Castle em usarem as palavras «ver» e «conhecer» tão fora de propósito eram facadas no coração de Ana. Certo domingo, no sermão da missa, o Reverendo Castle falava de «ver» o Tio Deus, de comtemplá-lo «frente a frente». saberia ele sequer o perigo que o ameaçava? Ana agarrou-me a mão e apertou-a com força, abanando a cabeça. Lutava com todas as suas forças para extinguir o seu fogo interior, que, uma vez liberto, teria fulmonado instantaneamente o Reverendo.
E, apropósito de fogo, digamos que os do inferno do Porco Sujo não passavam de brandões fulmegantes ao pé do fogo do coração de Ana.
Num murmúrio que ecoou por toda a igreja, disse-me: - E o Qu'é qu'ele vai fazer s'o Tio Deus não tiver cara ninhuma? Nem olhos, ahn, Fynn?
O Reverendo hesitou um instante, depois continuou subindo o tom para atrair a atenção e os olhares dos seus paroquianos.
Ana repetiu distintamente: - O qu'é qu'ele vai fazer?
- Não faço ideia - murmurei eu como resposta.
Ela puxou-me o braço para eu me aproximar e colou a boca ao meu ouvido: - O Tio Deus não tem cara - segredou ela.
Voltei-me para ela, curioso: Como é isso?
Ela tornou a colar a boca ao meu ouvido: - Proque não percisa de se voltar par' ver o que 'tá à volta dele, sabes? - E tornou a encostar-se no banco sacudindo a cabeça afirmativamente e cruzou os braços marcando bem o ponto final.
No caminho de regresso, perguntei-lhe o que ela tinha querido dizer com «... não precisa de se voltar...»
- Bem - disse ela -, eu tenho uma «frente» e umas «costas», e par' ver o que 'tá atrás tenho de me voltar. O Tio Deus não.
- Então. como é que ele se governa?
- O Tio Deus só tem «frente», não tem «atrás».
- Ah, compreendo! - disse eu.
A ideia de o Tio Deus não ter «atrás» pareceu-me tão engraçada que, apesar de todos os esforços, não consegui evitar uma enorme gargalhada.
Ana ficou muito espantada com o meu riso.
- De qu'é que 'tás a rir?
- Da ideia de o Tio Deus não ter atrás - disse eu, quase sem fôlego.
Encarquilhou os olhos um momento, esboçou um sorriso e depois todo o seu rosto se iluminou: - É verdade, que não tem! Nem atrás, nem cu, nem coisa ninhuma. - E as gargalhadas desceram toda a rua em vagas que fizeram estremecer à passagem todo o grupo de cristãos convictos do domingo, que franziram o sobrolho.
- O Tio Deus não tem cu! - começou Ana a cantar com a música de «Avante, Soldados de Cristo!»
Os cristãos convictos ficaram horrorizados. «Abominável!», disse o fato de domingo, que se sentiu amarrotado, «Uma verdadeira selvagem!», rangeram os sapatos de verniz, «Diabólica!», tilintou a corrente de ouro do relógio batendo na barriga do colete, mas Ana continuava a rir, de sociedade com o Tio Deus.
Ao voltar a casa, Ana exercitou-se comigo no seu novo jogo. Conforme se lançava espiritualmente para Deus, precipitava-se para mim fisicamente. «O Tio Deus não tem rabo» não era uma fantasia, nem uma brincadeira de criança, nem um disparate. Era assim que nela o espírito levantava voo. Por meio de tais conclusões, lançava-se para os braços do Tio Deus, e o Tio Deus recebia-a. Ana tinha a certeza de que ele o faria, que não a deixaria cair, que não corria o menor risco. E que não havia outra coisa a fazer senão isso. Para se salvar.

Ps: Todo o texto acima foi retirado ao livro em questão e pertence-lhe. O livro é constituído em vários capítulos e a selecção acima é da responsabilidade do administrador do blog. Perdão por qualquer erro que possa ter cometido.
A Morte chama

(A peça passa-se no quarto da casa de dois andares de Nat Ackerman, algures em Kew Gardens. Alcatifa de parede a parede. Há uma enorme cama de casal e um grande dossel. O quarto está mobilado e decorado requintadamente e nas paredes há quadros diversos e um barómetro nada atractivo. Música suave quando o pano sobe. Nat Ackerman, um fabricante de roupa, de cinquenta e sete anos de iadde, careca e com barriga, está deitado na cama, acabando de ler o Daily News de amanhã. Veste um roupão e calça chinelos e lê sob a luz de um candeeiro colocado na cabeceira da cama. É quase meia-noite. Subitamente ouve-se um barulho, Nat levanta-se e olha pela janela.)

Nat: Que raio de coisa é esta?
(Trepando desajeitadamente pela janela dentro, surge um vulto sombrio e embuçado. O intruso veste um capuz negro e calças justas também negras. O capuz cobre-lhe a cabeça mas não o rosto, o qual é d emeia-idade e lívido. Parece-se um pouco com Nat. Está audivelmente cansado e raivoso e, saltando pelo parapeito, cai no interior do quarto.)

A Morte (pois não é outra senão ela): Meu Deus. Quase que partia o pescoço.
Nat (olhando embaraçado): Quem é você?
A Morte: A Morte.
Nat: Quam?
A Morte: A Morte. Arranja-me um copo com água?
Nat:
A Morte? O que é que quer dizer com isso de ser a Morte?
A Morte: O que é que se passa consigo? Você não vê o fato negro e o rosto esbranquiçado?
Nat: Sim.
A Morte: Estamos no Carnaval?
Nat: Não.
A Morte: Então eu sou a Morte. E agora pode-me arranjar um copo de água - ou uma água tónica?
Nat: Se isto é alguma brincadeira...
A Morte: Qual brincadeira? Você não tem cinquenta e seta anos? Nat Ackerman? Rua do Pacífico, cento e dezoito? A menos que a tenha perdido - onde é que está aquela carta de chamada? (Remexe nos bolsos até que tira um cartão com uma morada escrita. Parece corresponder.)
Nat: O que é que quer de mim?
A Morte: O que é que que quero? O que é que pensa que eu quero?
Nat: Você deve estar a brincar. Estou de perfeita saúde.
A Morte (sem se impresionar): Hum, hum (olhando em torno). Uma linda casa. Foi você que a fez?
Nat: Tivemos uma decoradora, mas trabalhámos com ela.
A Morte (olhando um quarto na parede): Adoro essas crianças de olhos grandes.
Nat: Ainda não quero ir.
A Morte: Você naõ quer ir? Por favor, não comece. Já me basta o enjoo com que fiquei da escalada.
Nat: Qual escalada?
A Morte: Trepei pelo algeroz. Queria fazer uma entrada dramática. Vi as enormes janelas e você a ler, acordado. Imaginei que merecia uma coisa em beleza. Eu trepava e depois entrava com um pouco de - está a ver... (faz estalar os dedos). Porém o salto de um sapato prendeu-se-me nalguma gavinha, o algeroz partiu-se e fiquei pendurado pelo pescoço. Foi então que a capa se começou a romper. Olhe, vamos embora. Foi uma noite agitada.
Nat: Você partiu-me o algeroz?
A Morte: Partido não está. Ficou um bocadinho entrotado. Você não ouviu nada? Foi cá um estrondo quando caí no chão.
Nat: Estava a ler.
A Morte: Devia estar mesmo absorto (agarrando no jornal que Nat estava a ler). «ESTUDANTES PRESAS NUMA ORGIA DE HAXIXE.» Pode-mo emprestar?
Nat: Ainda não acabei.
A Morte: Hum - não sei como lhe hei-de explicar, pá...
Nat: Porque é que não se limitou a tocar à campainha?
A Morte: Estou a tentar explicar-lhe, podia tê-lo feito, mas qual era o aspecto que isso dava? Desta forma consigo umpouco de dramatismo. Um bocadinho. Leu o Fausto?
Nat: O quê?
A Morte: E se você estivesse acompanhado? Está aí sentado com gente importante. Eu sou a Morte - acha que devia tocar à campainha e agarrá-lo de caras? Onde é que está a sua inteligência?

(...)


Ps: Todo o texto acima foi retirado ao livro em questão e pertence-lhe. O livro é constituído em vários capítulos e a selecção acima é da responsabilidade do administrador do blog. Perdão por qualquer erro que possa ter cometido.

Escrevo aqui, hoje, indignado. Foi ontem, não mais que ontem (11 de Setembro), que, do meu quarto, vi um terceto de miúdos a brincar. Situação normal, pois a paisagem que dá para além da minha janela contém muito espaço verde e é a ideal para os mais novos.
Aqui, encontravam-se duas raparigas e um rapaz - sendo que, este último, com um balão em cada mão. As duas raparigas unem-se uma à outra e o rapaz fica de frente e eu, curioso, fiquei esperando a reacção que o rapaz teria e qual a sua ideia para abalar a sua fragilidade de relacionamento, que se notava à distância, entre os restantes elementos do grupo.

E eis que o rapaz, instantaneamente, tem uma ideia: observa as raparigas e os balões, ambos lado a lado um do outro e vice-versa, e profere as seguintes palavras:
- Vamos brincar ao 11 de Setembro! É aquilo dos atentados...
Relaciona as meninas com as torres gémeas e os balões, que segurava ainda, a aviões. Reduzindo a distância que o separava, corre intensamente com ambos os balões, e fá-los chocar directamente com as garotas.

E eu não suportei considerar aquele comportamento como normal.

16.
Queria sempre estar connosco a sós. Ladrava ao carteiro, ao electricista, a quem quer que não fosse da casa. Cão exclusitivista. Mas também actor. Quando havia visitas mudava de táctica. Com total perversidade, ele, que nunca prestava vassalagem a ninguém, escolhia uma vítima, aproximava-se devagar e encostava a cabeça a pedir festas, expressão de mágoa e súplica, como quem diz: Já que eles mas não fazem faça-mas você.
Teatro, puro teatro. Mas havia quem se deixasse levar. Uma amiga da casa chegou a dizer: O cão anda triste, deve estar cheio de carências.
E ele enroscado na sala, a olhar de soslaio para nós, com ar de gozo.
Em momentos assim, até os meus filhos perdiam a cabeça. Então, quando as vítimas saíam, fechavam-no de castigo na cozinha. Causa perdida. Ele começava logo a uivar e a raspar.

17.
(É melhor que não faças fitas, são pessoas de cerimónia as que estão cá hoje, deixa os chocolates em paz, não me obrigues a da uma sapatada num cão que não se vê.)

18.
-Fiteiro, disse eu numa dessas ocasiões.
- Como tu, retorquiu Joana, minha filha. Tu também fazes fitas, pai, às vezes amuas para chamar a atenção ou para que a gente te dê mimos, o cão percebe isso tudo. E os manos fazem a mesma coisa. Até a mãe. O cão imitanos a todos, tudo o que ele faz é para que se repare nele e se lhe dê mais carinho. Não é por ser cão que ele não tem sentimentos.
Cão como nós, pensei. Mas preferi calarme. A minha filha era igual a mim, igual ao cão, igual aos outros. Nunca se deixaria vencer ou convencer. Por isso não lhe dei troco. Por comodismo. Como o cão, quando se ralhava com ele e ele fazia a parte que não ouvia e continuava a dormir ou a fingir que dormia, enroscado na sala sobre si mesmo.

50.
Cão como nós

Como nós eras altivo
fiel mas como nós
desobediente.
Gostavas de estar connosco a sós
mas não cativo
e sempre presente-ausente
como nós.
Cão que não querias
ser cão
e não lambias
a mão
e não respondias
à voz.
Cão
Como nós.

Manuel Alegre

Ps: Todo o texto acima foi retirado ao livro em questão e pertence-lhe. O livro é constituído em vários capítulos e a selecção acima é da responsabilidade do administrador do blog. Perdão por qualquer erro que possa ter cometido.
Foi desta! Já posso declarar que o meu quarto está, desde sexta-feira à tarde, oficialmente limpo, arrumado e totalmente organizado.
Ao longo destas férias, aspirei o chão cerca de 5 vezes, ordenei as minhas colecções (de selos, moedas, maracadores de livros e de calendários de bolso) e passei a limpo todos os rascunhos de textos poéticos, que tinha escrito no ano anterior, para a minha agenda. Desviei móveis e, como irmão mais velho, aspirei também o chão da sala, arrumei cada peça de loiça lavada no seu canto respectivo e o mesmo com a roupa pendurada no estendal. Só não encerei o chão nem passei a roupa a ferro ('era só o que mais me falatava!').

Agora, que as aulas vão começar, o tempo já escasseia e os dias tornam-se mais curtos, é uma maravilha não ter tanta disponibilidade para voltar a realizar estas tarefas novamente com a mesma motividade. E o pó vai-se acumulando novamente, tal como acontecia nos anos anteriores, o material escolar vai preencher os poucos espaços vazios que restam na minha divisão da casa e, no final desta etapa escolar, lá vão ter de ser feitas mais umas arrumações. Parece que a vida vagueia entre duas actividades: estudar (trabalhar) e arrumar. E não sei qual delas me agrada mais. Não sei sequer se me agrada qualquer uma das duas.

Como costuma dizer o outro 'banano', faço das dele as minhas palavras:
'Não me apetece fazer nada'.
'Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.'

by Séneca (filósofo)
De todos os homens famosos que jamais existiram, aquele que eu mais gostava de ter sido é Sócrates. Não apenas porque foi um grande pensador, já que eu próprio tenho tido algumas ideias razoavelmente profundas, apesar de rodarem, invariavelmente, em torno de uma hospedeira das linhas aéreas suecas e de algumas algemas. Não, a grande atracção que o mais sábio de todos os gregos exerce sobre mim é a sua coragem em face d amorte. A decisão de não abandonar os seus princípios, de dar a vida para provar um ponto de vista. Pessoalmente, sou um bocado medroso face à ideia de morrer e, com um barulho inesperado, um estampido de escape de automóvel, atiro-me directamente para os braços da pessoa com quem estou a conversar. Afinal de contas, a morte corajsa de Sócrates deu à sua vida um significado autêntico; algo que falta completamente à minha existência, apesar de possuir um mínimo de relevância para a Direcção Geral de Impostos. Confesso que tentei muitas vezes pôr-me nas sandálias do grande filósofo e, de todas as vezes que o faço, começo a dormitar e tenho o seguinte sonho.

(A cena passa-se na minha cela prisional. Normalmente, estou a trabalhar num probelma profundo, de índole racional do tipo: pode-se chamar a um objecto uma obra de arte se ele também servir para limpar o fogão da sala? Neste momento Agathon e Simmias vêm visitar-me.)

Agathon: Ah, meu bom sábio e prudente amigo. Como tem passado os seus dias de reclusão?
Allen: O que é que se pode dizer da reclusão, Agathon? Só o corpo pode ser circunscrito. A minha mente vagueia livremente, sem as cadeias que as quatro paredes impõem, e na verdade pergunto: a minha reclusão existe?
Agathon: Bem, e se quiser ir dar um passeio?
Allen: Boa pergunta. Não posso.

(Sentamo-nos os três nas posições clássicas, em forma de friso. Finalmente, Agathon fala.)

Agathon: Temo que as novas sejam más. Foi condenado à morte.
Alen: Ah, entristece-me ter sido motivo de debate no Senado.
Agathon: Não houve debate. Por unanimidade.
Allen: Verdade?
Agathon: À primeira volta.
Alle: Hmm. Pensava ter um pouco mais de apoio.
Simmias: O Senado está furioso com as suas ideias acerca de um Estado de Utopia.
Allen: Acho que não deveria ter sugerido que tivéssemos um filósofo-rei.
Simmias: Especialmente numa altura em que apontava com insistência para si próprio e tossia discretamente.
Allen: E, no entanto, não olho para os meus carrascos como se fosse o mal.
Agatho: Eu também não.
Allen: Repare. Um homem a cantar uma bonita canção, é belo. Se continua a cantar, começa a doer-nos a cabeça.
Agathon: É certo.
Allen: E se ele nunca mais pára de cantar, pode acontecer que apeteça enfiar-lhe umas peúgas pelas goelas abaixo.
Agathon: Sim. É bem certo.
Allen: Quando é que a sentença vai ser executada?
Agathon: Que horas são?
Allen: Hoje !?
Agathon: A cela está a fazer falta.
Allen: Seja, então! Que eles tomem a minha vida. Que seja recordado que preferi morrer a abandonar os princípios da verdade e da livre questionação. Não chore, Agathon.
Agathon: Não estou a chorar. É uma alergia.
Allen: Para um pensador, a morte não é o fim mas um começo.
Simmias: Como é isso?
Allen: Bem, espere só um bocadinho.
Simmias: À vontade.
Allen: É verdade, Simmias, que o homem não existe antes de nascer, não é assim?
Simmias: É bem certo.
Allen: Nem existe depois da morte.
Simmias: Sim. Concordo.
Allen: hmm.
Simmias: E então?
Allen: Espere um bocadinho. Estou um pouco baralhado. Você sabe que a única coisa que me dão para comer é carneiro e nunca está bem cozido.
Simmias: A maior parte das pessoas encara a morte como o fim absoluto. Por isso a temem.
Allen: A morte é um estado de não-ser. O que não é não existe. Logo, a morte não existe. A verdade existe. A verdade e o belo. São intermutáveis e diferentes facetas de si prórpios. Hum, o que é que, especificamente, me vão fazer?
Agathon: Cicuta.
Allen (embaraçado): Cicuta?
Agathon: Não se lembra, é aquele líquido preto que lhe corroeu a mesa de mármore?
Allen: Ah, sim?
Agathon: Só uma chávena. E com um cálice por baixo, não vá entornar-se um bocadinho.
Allen: Será doloroso?
Agathon: Perguntaram se você iria tentar fazer uma cena. Perturba os outros presos.
Allen. Hmm...
Agathon: Disse-lhes que você preferiria antes morrer com coragem do que renunciar aos seus princípios.
Allen: Certo, certo... hum, a palavra «exílio» nunca foi pronunciada?
Agathon: Desde o ano passado que deixaram de exilar pessoas. Demasiada burocracia.
Allen: Certo... pois... (perturbado e distraído, mas tentando manter o seu autocontrole) eu, hum... portanto, hum.. e que outras novidades?
Agathon: Estive com o Isósceles. Tem uma grande ideia para um novo triângulo.
Allen: Certo... certo... (subitamente abandona toda a pretensão de coragem) olhe, eu vou passar a concordar consigo: não quero morrer! Sou muito novo!
Agathon: Mas esta é a sua oportunidade de morrer pela verdade!
Allen: Não me interprete mal. Sou todo pela verdade. Por outro lado, tenho um almolo marcado em Esparta, na semana que vem, e detestava faltar. É a minha vez de pagar. Você sabe como são os Espartanos, zangam-se com uma facilidade...
Simmias: Será que o nosso mais sábio filósofo é um cobarde?
Allen: Não sou um cobarde, nem um herói. Estou no meio.
Simmias: Um verme servil.
Allen: É mais ou menos o termo.
Agathon Mas foi você quem provou que a morte não existe.
Allen: Eh, ouçam: eu provei uma data de coisas. É disso que vivo. Teorias e pequenas opiniões. Uma resposta enigmática de vez em quando. Máximas ocasionais. Funciona, enquanto se comem umas azeitonas, mas não passemos daí.
Agathon: Mas você provou repetidamente que a alma é imortal.
Allen: E é! No papel. Veja, esse é o problema da filosofia: não é lá assim muito funcional, a partir do momento em que se sai da sala de aula.
Simmias: E as «formas» eternas? Você afirmou que cada coisa existe desde sempre e existirá para todo o sempre.
Allen: Referiame sobretudo a objectos pesados. Estátuas e coisas assim. Com as pessoas é muito diferente.
Agathon: Mas toda aquela conversa acerca de a morte ser semelhante ao sono.
Allen: Sim, mas a diferença é que, quando se está morto e alguém grita «Vamos levantar, já é de manhã», é muito difícil encontrar as pantufas.

(O carrasco chega com uma chávena de cicuta. Tem um aspecto facial muito próximo do comediante irlandês Spike Milligan.)

Carrasco: Ah, cá estamos nós. Para quem é o veneno?
Agathon (apontando para mim): É para ele.
Allen: Ena, que grande chávena. É preciso que esteja a fumegar dessa maneira?
Carrasco: Sim. E beba tudo, porque, muitas vezes, o veneno está no fundo.
Allen (Habitualmente, nesta altura o meu comportamento é totalmente diferente do de Sócrates e disseram-me que grito enquanto durmo.): Não, não bebo! Não quero morrer! Socorro! Não! Por favor!

(estende-me a misela borbulhante no meio da minha patética defesa e tudo parece perdido. Então, por causa de um qualquer instinto inato de sobrevivência, o sonho dá uma reviravolta e um mensageiro chega.)

Mensageiro: Parem tudo! O Senado fez outra votação! As acusações foram retiradas. O seu valor foi reconhecido e decidiu-se que lhe seria dado um louvor.
Allen: Finalmente! Finalmente! Chegaram à razão! Sou um homem livre! Livre! E, ainda por cima, vou ser louvado! Depressa, Agathon e Simmias, tragam as malas. Tenho de ir andando. O Praxiteles deve querer começar o meu busto mais cedo. Mas, antes de partir, vou deixar-vos uma pequena parábola.
Simmias: Ena, que abrupta reviaravolta. Pergunto-me se eles sabem o que estão a fazer.
Allen: Um grupo de homens vive numa caverca escura. Não sabem que cá fora o Sol brilha. A única luz que conhecem é a chama vacilante de algumas velas pequenas que usam para se deslocar.
Agathon: Onde é que arranjam as velas?
Allen: Bem, digamos que as têm, simplesmente.
Agathon: Vivem numa caverna e têm velas? Não soa lá muito verdadeiro.
Allen: Não pode aceitar isso, por agora?
Agathon: Okay, okay, mas diga lá depressa onde quer chegar.
Allen: E então, um dia, um dos jabitantes da caverna desliza até cá fora e vê o mundo exterior.
Simmias: Em toda a sua claridade.
Allen: Precisamente. Em toda a sua claridade.
Agathon: Quando tenta contar aos outros, eles não acreditam nele.
Allen: Nada disso. Ele não diz aos outros.
Agathon: Não?
Allen: Não, abre um talho, casa com uma bailarina e morre aos quarenta e dois anos de uma hemorragia cerebral.

(Eles agarram-se e obrigam-me a engolir a cicuta. Neste ponto costumo acordar, ensopado em suor, e só com alguns ovos e salmão fumado consigo acalmar.)

Ps: Todo o texto acima foi retirado ao livro em questão e pertence-lhe. O livro é constituído por vários pequenos textos e a selecção acima é da responsabilidade do administrador do blog. Perdão por qualquer erro que possa ter cometido.
Há muito que ando revoltado com a falta de acessibilidades pedonais na minha cidade. Para quem tiver tempo e pretender sair de casa e dar uma voltinha por cá, é difícil não enxergar com uma bela dose de gases e outros lixos tóxicos que de nada fazem bem à saúde.

Hoje fechei a porta de casa por volta das 15 e voltei duas horas depois. A caminho passei pelo Jumbo da minha zona para ver o preço dos computadores portáteis (que já me começa a dar jeito um...) e eis que, a meio do caminho, passo por uma loja de mobiliário que tem como logotipo 3 ou 4 crianças com o dedo indicador encostado à boca como sinal de silêncio. A verdade é que o logotipo até foi bem pensado do meu ponto de vista: é sempre bom ter alguém a mandar nos calar quando, depois de percorrermos um caminho a um espaço comercial inalarmos injusta e despropositadamente ar extremamente poluído, e ficarmos com uma vontade enorme de dizer asneiras.

Mais tarde, aproveitei e entrei na minha escola (que é já ali ao lado) para usufruir o boletim de inscrição para adquirir o passe escolar e eis que avisto uma fila enorme de alunos e volto para trás cansado, extoirado e angustiado por ter de percorrer o mesmo caminho de volta e sofrer as mesmas consequências.
Há coisas na vida difíceis de entender.
Na altura em que foi criado o cartão 'sócio da selecção', no último europeu, manifestei a minha indignação por não encontrar qualquer lógica em um português necessitar de adquiri-lo para mostrar ao mundo que é apoiante da SUA selecção nacional de futebol.


Agora, a Federação Portuguesa (peço perdão se estiver enganado), deu-se ao luxo de criar um site onde todos os sócios de cada clube, respectivamente, têm a oportunidade de discutir o resultado final de cada jogo. Nunca lá entrei nem tenho curiosidade, pois interesso-me cada vez menos pelo nosso futebol, mas o facto é que é estúpido dar o nome de 'indiscutível' a um espaço onde se pretende esssencialmente discutir opiniões.
É como a destribuição do Jornal gratuito 'Sexta' num Domingo, que ocorreu nestas últimas férias que passei no Algarve. Ainda por mais, só tive disponibilidade de o ler na Segunda...
Setembro é um mês muito bonito, porque vem a seguir ao Verão. É o mês do mais ou menos: nem está sol nem está chuva, por vezes fica frio, noutras o sol bate mais forte... e é um bom momento para ficar em casa a molengar, pois vem a seguir às férias de Verão e só apetece uma boa soneca todos os dias. Mas Setembro também é o mês em que os jovens regressam á escola e os demais voltam ao seu anterior cargo. É um mês de trabalho, reflexão e mudança. Os nossos tempos livres irão ficar mais curtos. Assim, também eu, infelizmente, hei-de aparecer por cá muitas menos vezes. Como estudante hei-de... estudar!

O que eu gostaria já há muito t
empo (e é algo que não me sai da cabeça) é que fosse criado um novo sistema de ensino nas escolas. Imaginemos um país sem escolas. Agora, imaginemos um MUNDO sem escolas. Agora imagina o nosso PAÍS e o resto do MUNDO sem escolas. A isso junta um computador pessoal para todos os alunos. Não seria engraçado todos os alunos do MUNDO mas, principalmente, do nosso PAÍS não tivessem de se deslocar todos os dias da semana ao seu estabelecimento de ensino (que bom seria)? Não seria extremamente maravilhoso todos os alunos passarem a frequentar um ano lectivo INTEIRO com aulas dadas através do msn? Não seria simplesmente original todos os alunos, professores incluidos, possuirem todos os contactos da turma e, a uma hora marcada, comparecessem todos a uma aula á frente do ecrã do seu computador? Que lindo seria... mas não é!

Com a imagem que vos meti na cabeça, informo ainda que li algures (há já algum tempo...) que existe um país por aí que pussui um sistema semelhante.
Agora cuidado... a inveja é um pecado mortal!


Boa sorte!