Os roubos do Roberto

Roberto era tão rebelde que, sempre que ia à mercearia comprar maças,
pagava o dobro do valor da fruta. A dona do estabelecimento,
que já preparava a sua reforma, à pala da assiduidade de tal cliente,
fingia-se honestamente intrigada com tal rebeldia, esperando que
Roberto caísse na Teia e teimasse
em voltar.

Novo dia, nova compra, são bananas e limões e Roberto, consciente,
teima em voltar depois. E diz a dona 'tudo bem, eu cá te espero,
estou cá o dia todo!', e então volta Roberto e leva 2Kg de Coco.

Descobriu-se, mais tarde então, num certo dia, há hora há hora, que Roberto roubava à noite, guardava e ia embora. E ficava com o dinheiro da rejubilante dona, voltava de
manhã, gastava-o e ia embora. E, em semelhante rotina, em rotina semelhante, Roberto pagava à menina com dinheiro resultante, ora dos roubos de um ladrão oficioso, em um ciclo vicioso.
E a questão que paira agora, e que fica ao vosso critério, é quem, em estranho caso, fica a ganhar com o dinheiro: a dona que se auto-satisfaz com o negócio circulante, ignorante, ou Roberto, que dá e rouba o seu sustento, os seus poucos tostões, e que teima em voltar e volta, roubando outra vez depois.


Rui Veloso - Não há Estrelas no Céu