Divagações 18: a descompustura

Mão morta, mão morta, vai abrir aquela janela, deixa-a completamente descomposta, e não reflitas nessa atitude positiva - permanece a apodrecer como os gatos nas estradas após o atropelamento na rodovia, na sua completa e eloquente descaracterização -; com este bafo infindável a suor meu, teu, dele, nosso, sentimos estar envolvidos em camadas de cobertores polares como se fossemos cebolas (e cheiramos mal como elas ou pior) e por cada camada que soltemos - cada peça de roupa que possamos despir até ao ponto de mostrarmos a piroca - nada alivia esta atenta tensão sobreposta no nosso corpo: foda-se, é que ainda ontem se sentia uma brisa pela noite, suave, mas mesmo assim, senti-a de cima a baixo, dos cabelos na careca aos pêlos por depilar no rabiosque... e hoje não consigo fazer nada, cada passo que dou faz-me sentir que passei ao lado da direção que pretendia tomar.
Não é fácil, tanto calor, imagino então em Lisboa ou em sítios mais quentes - tipo saunas ou até esquentadores ou fogueiras, diria até esquentadores afogueados em saunas -, mas neste buraco onde o alcatrão parece congelar a nossa alma quando saímos descalços na rua, até parece mentira, de momento, termos a fachada da igreja principal a arder. Tomara que termine de arder antes de bater as nove da noite, para que possibilite a possibilidade de ser possivel eu adormecer com uma temperatura razoavelmente moderada para que a minha disposição esteja de acordo com a disposição que pretendo que a minha disposição esteja disposta a estar. Daqui a nada sairei de casa, amanhã ficarei por casa - não exercerei trabalho no meu local de cargo profissional - e terei exaustivamente de me dedicar a tragédias gregas. Isto porque, infelizmente, algures em inícios de setembro, farei um exame de conclusão de modo a concluir uma etapa já há muito antecipada que é a de concluir os meus estudos; após o ter feito deverei incendiar tudo o que estiver relacionado com esta última cadeira, uma vez que não guardo nenhum desejo de me dedicar futuramente a estudos aproximados à mesma ou mesmo que distantes mas com uma aproximação vulgar ou banal. Dito isto, não tenho rigorosamente mais nada a dizer, adiantar, quiçá desenvolver ou acrescentar. Quando os dias são assim, tenho a sensação de que ainda nem começou e já vai tão adiantada que quase termina sem eu dar conta, leva a crer que adoeci ou que já me encontro numa idade tão avançada que é uma idade cágado - tipo, como no texto da lebre e o cagádo ou a lebre e a tartaruga (já não me recordo bem; é um sinal de demência mental devido à idade, também), mas enfim, quase parece que eu sou uma lebre e corro muito depressa mas, por fim, fui ultrapassado pela idade cágado que chegou primeiro à meta. No fundo é isto, a sinopse da vida: era uma vez um indivíduo que foi ultrapassado pela sua idade cágado e, após se ter apercebido de tal acontecimento, já a idade cágado tinha cagado para o assunto de tão adiantada que estava, já estava noutra, a comer camarões dançantes em água imunda, fétida, como se se tivesse elaborado um concentrado de carne putrefacta - daquela que é guardada numa salinha com uma indicação "carne imprópria para consumo humano". Será que, considerando-me desumano e consumindo carne tabelada imprópria para consumo humano, sou exatamente quem devo ser e estou exatamente onde devo estar, por outras palavras, terei eu os chakras alinhados? Será este o sentido da vida e eu, pobre de mim, que tenho consumido do pior e mais barato! (mas, mesmo assim, bem bom!), pobre de mim que nada tenho mas para que serve tanto dinheiro? Não tenho nada, mas tenho tenho tudo...olha!!, ainda consigo avistar, desta varanda, a minha idade cágado, ali, quase não parece ela mas é - nota-se pela ponta da cauda de belzebu -, relampejante, vai como se tivesse fogo no rabo ou talvez tenha deixado o forno ligado, quem sabe? Nota-se que é ela, pelas pegadas que deixa no tempo. E, entretanto, a igreja já tombou, o padre já sucumbiu e a freira teve sorte porque estava de folga - sim, talvez as freiras também folguem de pregar a palavra do senhor. Após tudo isto, já não é possível encontrar a idade cágado - provavelmente já foi chatear outra lebre ou raio que a parta -, contudo, está mais fresquinho. 
Vá lá...ao menos algo positivo.