O Homem sem anûs
(cu cu cu)

Era uma vez um homem que nasceu sem anûs.
O seu recto era liso como uma tábua de engomar.
E caía para trás se se tentasse sentar, porque não tinha apoio.

Quando foi pequeno não pôde andar em escorregas nem brincar em baloiços.
Se dormisse deitado, acordava de tal forma erecto que ficava uma semana sem se conseguir levantar. E na prática de relações sexuais não era, de todo, aconselhável ficar por baixo.

À medida que crescia, tornava-se cada vez mais complicada a sua vida: a roupa interior deixara de lhe assentar, pelo que começou a deixar de usá-la. Ao passar na rua o vento soprava-lhe ao de leve, e bastava uma leve brisa para as pessoas que lhe passavam notarem a sua calça sem fincos, perfeitamente engomada e fugirem do senhor nascido sem anûs, duvidando se seria portador de qualquer doença não, contudo, deixarem de o considerar deveras sexy, tal era a sua suposta assiduidade.

Não podia ouvir falar de cozido, de cozer e coser, de cozedura, de cozinha, de cozinhado, de cozinheiros, de comer, de comida, de culinária, de coelho, de coração, de comitivas, de corridas e colissões, de cucos, de brancos e escuras, de ricos e bancos, de acordâncias, de comandos, de curas e curativos, de cuidados, de cunhas, de culpados e culpas, de circo, de curiosidades e cusquices, de comentários, de acolher e acolhimento, de cuspidelas, de cercos, de ocorrer, de codornizes e cordeiros, de curdos, de escudos, do oculto, de ecologia e ecológico, de colegas, de acomular, de copular, de colunas e acústica, de coreanos, de cotovias, de cornetas, de curtas, de coronéis e corporações, de correcções, de correntes, de colecções, de cortinados e cortinas, de cortiça, de cursos, da cunhada, de currículos, de curvas, de escorbuto, de muco e cuspo, de cotovelos, de conexão, de quadros, de quadras e quadrados, do Equador, de quarentena, de quartas, de quandos e quais, de quases, de equações, de quartos, de quartéis, de aquíferos, do Marco Paulo e Paco Bandeira;
que se lhe vinha à memória a sua falta de cu, de traseiro, de rabo, a sua nascença sem anûs.

E entrava numa depressão profunda por se relembrar das suas dormidas em pé, tais já eram os calos que trazia nos calos dos calos dos pés.


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