Frederico, um homem bonito

Hoje Frederico acordou com um sorriso nos lábios e com as mãos e o coração quentes, sinal de que os opostos se atraem e que o cupido também tem os seus enganos, tanto que Frederico andava em maré de sorte no jogo e aparentava razões que a própria razão desconhece no amor; martírio de saber, efectivamente, que a sorte não toca a todos e que deus só dá as nozes a quem dentes os tem. Era então um maravilhoso dia para o Frederico, que se levantou com os pés assentes na Terra, com a cabeça assente no pescoço e com as ideias no sítio, e não fosse dormir ele nu com o porte atlético que deliciava as donzelas da redondeza, e ironicamente dizer-se-ia que tinha também as calças na mão, coisa que evidentemente aconteceu porque já foi escrita. Acordou Frederico no seu despertar matinal, com uma agenda prazerosa de práticas futuras, calçou as pantufas trauteando ladainhas do arco-da-velha, vestiu-se e perfumou-se,
perante a áurea de satisfação que o contemplava, e regozijou-se Frederico de ser um homem bem-parecido e empreendedor no espelho que o duplicava a vaidade. Feito isso, comeu e dançou Frederico, sendo quase certamente um grande homem,
se acertada é a premissa da mulher grande que há atrás dele como o provérbio o diz; rebolou deambulando escadas abaixo, cumprimentou a vizinha que lhe lançou olhar de apaixonada, e foi à sua vida, esbanjando inveja a quem se lhe opunha nos demais passeios que a vida se nos põe à frente. Quando ia a atravessar a estrada foi atropelado por um camião e morreu.
|Tema: Roling In The Deep, Adele|