Despiu a roupa para se atirar à água límpida e pendurou-a numa árvore.
Ao sair da água, inteiramente nu, viu a roupa e disse:
- Olha! Alguém se esqueceu da roupa e do chapéu, vou usá-los!
Enfiou a roupa, pôs o chapéu, os sapatos, e foi-se embora todo contente.
(Tertúlia de Mentirosos, Jean-Claude Carriére)
Estou a fazer um pacto comigo mesmo e ando um tanto preocupado, porque eu sou uma pessoa em quem não se deve confiar. É sinal de algum desespero fazer pactos com pessoas assim. Por outro lado, o pacto é deveras pessoal, porque tem a haver com a minha pessoa. E quem, senão a minha pessoa, para conhecer a minha pessoa? Hum. Estabeleci, então, de mim para comigo, o pacto de equilibrar o meu estado temperamental. Quer isso dizer que só me posso enervar em casos de extrema necessidade. Que casos de extrema necessidade são esses não sei, talvez elabore uma lista. Os objectivos que pretendo atingir com isto são, pois, uma maior sintonia com o mundo e os outros, maior auto-confiança e determinismo. Para isso terei de construir hábitos para conseguir uma cabeça límpida e consciente. Eis, então, o meu plano: deitar-me todos os dias às 21h30 para levantar às 6h00 (cerca de 8 horas, aconselhadas, de sono) excepto às segundas que é quando passa as Donas de Casa Desesperadas na Fox às 22h15, tomar um duche e merendar a horas decentes. Por enquanto é isso; o que se pretende é eu estar bem-disposto para aturar os outros, já que é mais difícil mudar-lhes a eles e já que não posso desatar aí às facadas, principalmente àquele deficiente que tem aulas comigo à noite. E tenho os meus trabalhos de faculdade, quero terminá-los antes do previsto para os meter a um canto e os mandar para o caraças. É um ponto em vantagem que os meus trabalhos têm em relação a certas pessoas, ficam ali e não chateiam, nem me telefonam a horas indecentes quando é madrugada e eu tento dormir. Não dêem o vosso contacto ao Sérgio. he's the Freddy Krueger and he's gonna kill you when u dream. Em geral sou mais fã do Jason, quando me aparece um chato à frente imagino-o a ser esventrado por aquela enorme espada. É bastante terapêutico. Beber chá de tília também, para corações mais fracos. À parte de tudo isso, preciso de meter este meu stress numa gaiola e deixá-lo morrer lá à fome, coisa que não posso fazer com os dois pássaros da minha irmã que não me deixam almoçar em silêncio. Depois disso, saber que consigo aturar a minha irmã será um passo que certificará certamente que estou no rumo certo.