Arremessos de sono ao teclado.

Arrotei.
Depois pedi perdão, mas ninguém estava lá.
Ao levantar-me da mesa da cozinha, a cadeira velha chia mais alto 
ao sabor da solidão, como que gritando por ajuda,
como que gritando por conhecer outras pessoas,
como que expressando fúria em sentir sempre o mesmo cu,
sempre o mesmo cu pesado em cima de si.

e então, tomando essa atenção, respondo em desconsideração:

excelentíssima cadeira de mesa, que me acompanhas da entrada à sobremesa,
e, em momentos mais tardios, me acompanhas na ceia, depois da uma e meia,
venho, por este meio agradecer-te, por teres a amabilidade de suportar o peso
do meu corpo cada vez mais molesto e glutão, és a minha única companhia.

contudo, como de momento estás gritando e gritando,
eu tenho em minha posse um martelo para te calar:
o ser humano tem este poder sobre as cadeiras,
torná-las em materiais de madeira descompostos.

é como desmembrar um inimigo.
mas sem me tornar um sociopata.